Genebra (Suíça): Merkel encampa plano da oposição de criar salário mínimo alemão

A Alemanha tem um regime de autonomia de fixação dos salários entre sindicatos e empregadores. Em maio, o patronato alemão assinou com o poderoso sindicato IG Metal um acordo de aumento de 3,4% valendo desde julho, e de 2,2% a partir de maio de 2014. Mas isso só vale para o Estado da Baviera.

Na prática, nem todos os salários alemães são cobertos por esse tipo de acordo. Analistas dizem que há cada vez menos beneficiados, baixando de 75% dos trabalhadores no fim dos anos 2000 para 60% atualmente. Para sindicatos e social democratas, isso mostra que o sistema não funciona tão bem. Milhares de trabalhadores cobertos pelos acordos têm pagamentos muito baixos que não podem descer a € 4 por hora.

O SPD (Partido Social Democrata) propõe um mínimo de € 8,50 por hora. Já a CDU, partido de Merkel, depois de flexibilizar sua posição, sentindo o atrativo da ideia, quer algo mais limitado e variável, sempre em negociação entre sindicatos e empregadores e sem que o governo fixe sozinho um valor.

Para analistas, a eleição de 22 de setembro deve assim abrir uma reforma importante na economia alemã, já que atribuem a notória fragilidade do consumo na maior economia da Europa desde a introdução do euro à expansão modesta dos salários. Mas acham que o impacto será modesto.

Para o SPD e os Verdes, a introdução do salário mínimo beneficiará 15% da mão de obra. Calculam que a medida pode estimular o consumo em até € 19 bilhões por ano, o que adicionaria 0,8 ponto percentual nas estimativas do crescimento do PIB em 2014.

Mas especialistas consideram a cifra exagerada. O salário mínimo proposto de € 990 é equivalente a 27% do pagamento médio recebido pelos alemães. É verdade que o mínimo proposto é bem maior que o beneficio de € 382 dado aos desempregados e pode estimular algumas pessoas a voltar a procurar emprego com mais afinco.

Assim, não só impacto sobre o consumo tende a ser pequeno, como a medida pouco ajudará o reequilíbrio da zona do euro como um todo. A competitividade alemã não será afetada. A analista Jennifer McKeown observa que, desde 1999, os salários na Espanha aumentaram 20% em relação aos alemães, de forma que uma alta na Alemanha terá pouca diferença em relação a outros países.

Além disso, o forte desempenho exportador alemão tem mais a ver com fatores que a periferia europeia tem dificuldade em copiar.

A atenção dada à proposta de salário mínimo mostra como as plataformas de social democratas e conservadores estão próximas e como não se deve esperar mudança radical na zona do euro após a eleição alemã, diz McKeown. Merkel lidera com folga as pesquisas para a eleição de 22 de setembro.

Na Europa, o valor do salário mínimo nos países onde ele é estabelecido na lei varia bastante. Na Romênia, pode representar apenas 25% do pagamento médio no país. Na Irlanda, chega a ser a metade, segundo os sindicatos.

Formalmente, segundo a Comissão Europeia, o salário mínimo no bloco varia de € 159 na Bulgária a € 1.874 em Luxemburgo. Quando ajustado o diferencial de preços (em alguns países com salário baixo, os preços também são menores), a disparidade de 1 para 12 é reduzida a 1 para 5 em termos de poder de compra.

Em 2012, o nível do salário mínimo na Europa variava de 30% a 50% dos ganhos brutos na indústria da construção e serviços.

FONTE: Valor